IRIS HALMSHAW

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IRIS HALMSHAW - a genialidade de uma criança

domingo, 18 de agosto de 2013

130 POEMAS PARA CRIANÇAS - ANTOLOGIA POÉTICA - INTRODUÇÃO





130 POEMAS PARA CRIANÇAS – ANTOLOGIA POÉTICA




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INTRODUÇÃO - 

Já dissemos noutro lugar, que a poesia é algo vivo, um algo que não tem definição. É Beleza e Verdade, é Vida; a Vida no seu permanente deslumbre.

Elaborar uma antologia poética não é tarefa fácil e muito mais dificultosa se torna, quando a mesma é dirigida a crianças e jovens.

Penso, tal como Antero de Quental, que para as crianças, se a escola não for jardim, será apenas insuportável prisão, e a doutrina caso não seja encanto, será tão-somente tortura, como tortura é também nos tempos conturbados em que vivemos, o relacionamento familiar.

Não há que culpar os jovens dos seus hábitos, mas antes, seus educadores e progenitores. Estes últimos, sempre demasiadamente assoberbados por inúmeras tarefas e lazeres, para contribuírem como lhes incumbe, para a formação do carácter e personalidade de seus filhos.
O século XXI é o século das “baratas-tontas”, sempre atarefadas com as suas carreiras mesquinhas e com os seus pertences e aparência; o século dos deuses, “poder” e “ouro”.

Neste cenário pouco convidativo, convenhamos que urge despertar a imaginação e a inata tendência poética das crianças, se ansiamos no porvir à existência de um mundo melhor.
Esse despertar da sensibilidade nunca será conseguido caso as confinemos, por comodismo, ao “escuro” progresso da electrónica: dos ordenadores e seus descendentes e derivados.

O sentimento ético e estético, provocado instintivamente pela poesia, poderá ter a virtualidade de animar uma mundividência, que alicerçará uma afeição ao Todo, sensibilidade à Vida e exaltação da Alma, contrariando deste modo uma estereotipia gerada pela especialização.

Para além dos poetas consagrados, todos de língua portuguesa, coligimos algumas canções populares.
A edição dos poemas, cerca de 130 – alguns sofreram ligeiras alterações ou supressões para melhor compreensão –, não tem como numa antologia exemplar uma ordem estruturada por datas e autores, mas antes, pela maior ou menor dificuldade de entendimento, permitindo um movimento de leitura sequencial às crianças e jovens.
Os que aparentam maior complexidade interpretativa constituem-se como provocação ao trabalho conjunto de leitores, pedagogos e progenitores.

Que estes poemas possam ser lidos em família, que possam despertar nas nossas crianças o sentimento do Belo e do Bem, é a minha mais sincera esperança.


Pode baixar a antologia no seu todo em »


Caso pretenda visualizar todos ou alguns dos 130 poemas veja na barra lateral deste o » ARQUIVO DO BLOGUE  ou vá até ao fim da página e clique sucessivamente em » Mensagens antigas.



***



AS CRIANÇAS

Repele alguém do Mestre, brutalmente,
os louros querubins de rostos finos.
- Mas o sábio Rabi lhes diz, clemente:
«Deixai virem a mim os pequeninos.

Deixai-os vir a mim. Sou o ceifeiro
que nada perde, e os mundos vem ceifar.
- Feliz de quem como estes é rasteiro.
- Ai daquele, cruel, que os molestar!»

GOMES LEAL


***


A todas as crianças do mundo




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O PASTOR - EUGÉNIO DE ANDRADE





Pastor, pastorinho,
onde vais sozinho?

Vou àquela serra
buscar uma ovelha.

Porque vais sozinho
pastor, pastorinho?

Não tenho ninguém
que me queira bem.

Não tens um amigo?
Deixa-me ir contigo.

EUGÉNIO DE ANDRADE



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HISTÓRIA ANTIGA - MIGUEL TORGA





Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.

Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenino
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.

MIGUEL TORGA



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LEVAVA EU UM JARRINHO - FERNANDO PESSOA





Levava eu um jarrinho
P´ra ir buscar vinho
Levava um tostão
P´ra comprar pão;
E levava uma fita
Para ir bonita.

Correu atrás 
De mim um rapaz:
Foi o jarro p´ra o chão,
Perdi o tostão,
Rasgou-se-me a fita...
Vejam que desdita!

Se eu não levasse um jarrinho,
Nem fosse buscar vinho,
Nem trouxesse uma fita
Para ir bonita,
Nem corresse atrás
De mim um rapaz
Para ver o que eu fazia,
Nada disto acontecia.

FERNANDO PESSOA



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A NAU CATRINETA





Lá vem a nau Catrineta
Que tem muito que contar!
Ouvide, agora, senhores,
Uma história de pasmar.

Passava mais de ano e dia
Que iam na volta do mar,
Já não tinham que comer,
Já não tinham que manjar.
Deitaram sola de molho
Para o outro dia jantar;
Mas a sola era tão rija,
Que a não puderam tragar.
Deitaram sortes à ventura
Qual se havia de matar;
Logo foi cair a sorte
No capitão general.

- «Sobe, sobe, marujinho,
Àquele mastro real,
Vê se vês terras de Espanha,
As praias de Portugal.»
- «Não vejo terras de Espanha,
Nem praias de Portugal;
Vejo sete espadas nuas
Que estão para te matar.»
- «Acima, acima, gajeiro,
Acima ao tope real!
Olha se enxergas Espanha,
Areias de Portugal.»
- «Alvíssaras, capitão,
Meu capitão general!
Já vejo terras de Espanha,
Areias de Portugal.
Mais enxergo três meninas
Debaixo de um laranjal:
Uma sentada a coser,
Outra na roca a fiar,
A mais formosa de todas
Está no meio a chorar.»
- «Todas três são minhas filhas,
Oh! quem mas dera abraçar!
A mais formosa de todas
Contigo a hei-de casar.»
- A vossa filha não quero,
Que vos custou a criar.»
- «Dar-te-ei tanto dinheiro
Que o não possas contar.»
- «Não quero o vosso dinheiro,
Pois vos custou a ganhar.»
- «Dou-te o meu cavalo branco,
Que nunca houve outro igual.»
- «Guardai o vosso cavalo,
Que vos custou a ensinar.»
- «Dar-te-ei a nau Catrineta,
Para nela navegar.»
- «Não quero a nau Catrineta,
Que a não sei governar.»
- «Que queres tu, meu gajeiro,
Que alvíssaras te hei-de dar?»
- «Capitão, quero a tua alma
Para comigo a levar.»
- «Renego de ti, demónio.
Que me estavas a atentar!
A minha alma é só de Deus;
O corpo dou eu ao mar.»

Tomou-o um anjo nos braços,
Não no deixou afogar.
Deu um estouro o demónio,
Acalmaram vento e mar;
E à noite a nau Catrineta
Estava em terra a varar.



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A ESMOLA DO POBRE - JÚLIO DINIS





Nos toscos degraus da porta
De igreja rústica e antiga,
Velha trémula e mendiga
Implorava compaixão.
Quase um século contado
De atribulada existência,
Ei-la enferma e na indigência,
Que à piedade estende a mão.

Duas crianças brincavam
À distância, na alameda;
Uma trajada de seda,
Da outra humilde era o trajar.
Uma era rica, outra pobre,
Ambas loiras e formosas,
Nas faces a cor das rosas,
Nos olhos o azul do ar.

A rica, ao deixar os jogos,
Vencida pelo cansaço,
Viu a mendiga – e ao regaço
Uma esmola lhe lançou.
Ela recebe-a; e a criança,
Que a socorre compassiva,
Em prece fervente e viva,
Aos anjos encomendou.

De um ligeiro sentimento
De vaidade possuída,
À criança mal vestida
Disse a do rico trajar:
- «O prazer de dar esmolas
A ti e aos teus não é dado;
Pobre como és, coitado,
Aos pobres o que hás-de dar?»

Então a criança pobre,
Sem más sombras de desgosto,
Tendo o sorriso no rosto,
Da igreja se aproximou;
E após, serena, em silêncio,
Ao chegar junto da velha,
Descobrindo-se, ajoelha,
E a magra mão lhe beijou.

E a mendiga alvoroçada,
Ao colo os braços lhe lança,
E beija a pobre criança,
Chorando de comoção!
É assim que a caridade
Do pobre ao pobre consola;
Nem só da mão sai a esmola,
Sai também do coração.

JÚLIO DINIS



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JESUS PEQUENINO





Estava Maria
À beira do rio,
Lavando os paninhos
Do seu bento filho.

Lavava a Senhora,
José estendia,
Chorava o menino
Com frio que tinha.

Calai, meu menino,
Calai, meu amor!
Do mundo os pecados
Me cortam de dor...

Os filhos dos homens
Em berço dourado,
E vós, meu menino,
Em palhas deitado!

Em palhas deitado,
Em palha esquecido...
Filho d´uma rosa,
D´um cravo nascido!

Os filhos dos homens
Em bom travesseiro,
E vós, meu menino,
Preso a um madeiro!

CANÇÃO POPULAR



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