IRIS HALMSHAW

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IRIS HALMSHAW - a genialidade de uma criança

domingo, 18 de agosto de 2013

ROMANCE DE D. JOÃO - EUGÉNIO DE ANDRADE





Foi-se D. João,
foi à sua vida,
sem dificuldade
saltou pelo muro,
não voltou senão
quando ao outro dia
já fazia escuro.
Vinha enfarruscado,
partida a viola,
o boné ao lado,
rasgado o calção
e a camisola.
Fiz-lhe uma carícia,
não me respondeu,
foi-se encafuar
perto do borralho
arrastando o pé.
Percebi então
que não vinha bem.

Que desgosto teve?
Com quem se bateu?
Disputas de gatos
em pleno Janeiro?
Ou foi antes cão
que o filou primeiro?
Nada perguntei
por delicadeza,
mas que fora coça,
da rija, da boa,
da que deixa mossa
para a vida toda,
isso bem se via.
Queria ajudá-lo,
não só por carinho:
custa tanto vê-lo
metido na fossa
da melancolia!

E para acabar
quase me atrevia
a pedir que guardem
muito bem guardado
tudo isto em segredo.
E muito obrigado.

EUGÉNIO DE ANDRADE



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